segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Westvleteren e St. Bernardus...



        "O rei de Flandres, na Holanda do século XII, é considerado o santo protetor dos cervejeiros."
                                                            São Grambinus


Sábado de manhã, na Grand Place de Tornai tinha uma feira enorme de roupas, sapatos de gosto bem duvidoso. Demos uma volta e já ansiosamente partimos para a abadia de São Sisto de Westvleteren, em direção a cerveja considerada senão a melhor, uma das melhores do mundo.
Desde o seu início em 1839, sempre teve a menor produção entre as cervejarias trapistas. Os monges vendem as cervejas, na porta da abadia, mediante reserva telefônica e a informação do  número da placa do carro, e dizem, que mesmo assim de má vontade, como se quisessem enfatizar o fato de que produzem cervejas para que possam rezar, em lugar de rezarem para que consigam vender suas cervejas. Mas enfim, as cervejas são consideradas tão boas que é aconselhável bebe-las rezando...
O restaurante-bar  da  abadia estava bastante cheio, era sábado e muitos belgas de outros lugares da Bélgica aproveitam o dia e vão até lá para almoçarem e fazer um programa de fim de semana. Sentamos em uma mesa do lado de dois casais belgas e acabamos conversando bastante. Eles surpresos, dois brasileiros por ali vindos de tão longe...Claro que eles ficam curiosos em saber mais a respeito do Brasil, e em particular do Rio de Janeiro. E não tem outra coisa diferente para se dizer das maravilhas naturais do Rio: praia, montanha, clima etcetc...até que vem a pergunta fatal e não era a primeira vez que tinham me feito: mas é seguro para irmos até lá por conta própria? Vem um monte de coisa na minha cabeça, passam alguns segundos  antes de responder de uma maneira sincera, e de uma forma meio triste, que o ideal seria através de uma excursão pelo menos da primeira vez, para um reconhecimento das peculiaridades que o nosso país apresenta...
Após o ritual de tomarmos as três cervejas: a Blond 5,8%, a Extra 8% e a  Westvleteren abt 12 com teor alc. de 10,2%, todas muito especiais, nos despedimos e eles nos aconselharam a passar pela cervejaria Sint Bernardus a apenas 10 minutos dali e que fabricavam cervejas muito similares a St. Sixtus. Foi o nosso próximo destino...


Venda da cerveja somente com reserva...

Entrada proibida


Santa Cerveja



3,70$  -  4,20$  -  4,70$E  respectivamente...
De graça em comparação com os preços daqui de fora, quando se acha
 

A cervejaria Sint Bernardus deslanchou depois da segunda guerra mundial, em 1946, quando começou a produzir a linha de cervejas St. Sixtus para o mosteiro  trapista Westvleteren até 1992 quando o contrato expirou. Pouco depois os trapistas entraram com um processo contra a cervejaria por continuar usando o nome St. Sixtus e a imagem do monge nos rótulos. Dizem que depois que perdeu, a cervejaria  St. Bernardus já mudou de rótulo umas cinco vezes...
Tem uma pousada ao lado da cervejaria. Estacionamos o carro e nos apresentamos na recepção, falamos que a gente estava de passagem e paramos apenas para conhecer. A senhora que nos recebeu, bastante receptiva, se desculpou dizendo que o hotel estava lotado, não tinha mais vaga e perguntou se não queríamos entrar e tomar uma cerveja. Já que ela insiste...

Uma de cada vez, por favor!

Maior conforto, na recepção da pousada

Começamos a conversar e ela falou que a sua secretária, que é polonesa, falava português porque namorava um brasileiro que trabalhava na cervejaria. Logo ela chegou e se juntou a gente. Divertida, com um tremendo sotaque,  gastava todo o português polonizado ou o polonês aportuguesado que sabia...Perguntamos quanto tempo tinha de namoro com o brasileiro e ela falou que havia quase dois anos. Fala para o seu namorado que ele está te enrolando...voussê extá mi inrolamdu!” ela repetiu sem entender o que significava. Isso bradei eu, fala que ele vai entender. Não deu muito tempo, chega Bruno, um paranaense com quase dois metros de altura e assim que ele entrou na sala, ela foi logo falando a frase para ele. Ele soltou uma risada e perguntou quem tinha ensinado aquilo.  Bruno era muito simpático e estava na Bélgica a quase cinco anos, e no momento estava trabalhando como um faz tudo na cervejaria, tentando juntar dinheiro junto com ela para se casar. Voltar ao Brasil era uma hipótese. "Você tem que virar mestre-cervejeiro”, aconselhei em tom solene, ainda mais com o mercado que está se formando no Brasil com várias cervejas artesanais. Toda essa conversa regada a St. Bernardus ABT 10,5%  de teor alcoólico, para manter o padrão das trapistas da Westvleteren. Tomando devagar, degustando...conversa boa, bebida boa, mas era hora de partir e o nosso destino era pernoitar na cidade de Gent onde fica a cervejaria Huyghe. Delírium!




Ela fala um pouco de português...
Ele não fala nada de polonês...





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