segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pizen - o berço da cerveja pilsen



Josef Groll, mestre-cervejeiro alemão criador da cerveja pilsen que revolucionou o método de se fazer cerveja na época (1842). Morreu aos 74 anos numa mesa de bar com amigos...tomando cerveja!




Depois do banho energético de cerveja de Chodová Planá rumamos para Pilsen uma hora e pouco de distância. Era uma sexta-feira, entramos no quarto do hotel deixamos as malas e perguntamos para a bela recepcionista o que ela indicava para os “embalos de sexta à noite”...
A pergunta pareceu estranha para ela. Comentou que havia alguns restaurantes em volta da praça (não encontramos nenhum!) e falou também que o restaurante da cervejaria Pilsen Urquel era muito bom.  No dia seguinte era para lá que iríamos e portanto não queríamos repetir o programa. Acabamos parando numa pizzaria ao lado quase colada ao hotel, no subsolo com aspecto de caverna, bem interessante... Pedimos uma pizza acompanhada por duas cervejas, estava ótima mas o grande problema da casa é que era permitido fumar. Não consigo entender como em um lugar fechado ainda pode ser permitido fumar...longe de ficar implicando com os fumantes, mas depois de um tempo começou a ficar insuportável !

A caverna antes da galera começar a fumar






Pilsen na garrafa e Bud na pressão
Pizen é candidata a capital cultural da Europa em 2015. Pelo que lemos a cidade com cerca de 170 mil habitantes e uma vida cultural que gira em torno do prestigiado teatro J.K.Tyl, deu à cultura checa nomes importantes como o pintor e cineasta de animação Jiri Trnka (1912-1969), o cômico e escritor Miroslav Hornicek (1918-2003) e o cantor Karel Gott, nascido em 1939. Andando pela cidade tem-se a impressão que ainda estamos na década de 70...Na segunda guerra, foi uma das primeiras cidades a ser invadida pelos americanos e tomada dos alemães. Todo ano é realizado um desfile e tal acontecimento é relembrado em clima de festa e vestidos à caráter. Pelo pouco que vi na cidade e vivenciei, achei muito pouco para vir a ser a capital da cultura em 2015, mas vai que...


Em torno da principal praça, prédios antigos muito bem preservados             




A catedral principal, em volta dela a cidade foi crescendo...

Mas indo ao que interessa o grande motivo da visita a cidade foi conhecer a cervejaria Pilsner Urquell (Urquell significa “fonte original”, em alemão, língua oficial da Bohemia na época do império austríaco) e o berço de onde nasceu a cerveja pilsen em outubro de 1842 onde o mestre cervejeiro alemão Josef Groll criou a fórmula da cerveja que popularizou-se mundialmente e tornou-se o padrão a ser seguido pelas cervejarias que produzem este estilo. Utiliza o famoso lúpulo Bohemia Saaz, tem um aroma floral e picante e o final é amargo.

O malte de cevada de Moravia dá um toque suave e delicado e um teor alcoólico baixo com 4,4%vol. É ótima!
Ao passar pelo famoso portão de entrada, a cervejaria tem toda uma estrutura para receber visitantes. Bastante ampla entramos no lugar indicado para as excursões guiadas que são feitas em alemão, checo e em inglês com horários distintos. Se quiser fotografar a visita guiada paga-se mais uma taxa e vale a pena.


A famosa entrada, inclusive presente no rótulo (estilizada)


As instalações da cervejaria ao fundo e em frente a recepção do visitantes
Enquanto se espera, um filme antigo vai passando e mostrando a evolução da fábrica, com imagens em preto e branco bem interessantes. Entramos num ônibus e a visita começa pela parte nova mostrando toda a tecnologia atual onde a maturação da cerveja ocorre em 56 grandes tanques de aço inoxidável com temperatura controlada por computador. As cervejas saem dali para o mundo apesar de existir mais uma fábrica menor instalada na Rússia para consumo regional.

O ônibus da visita guiada

Modernas instalações de confecção e

engarramento da cerveja


O auge da visita guiada é quando chegamos na parte antiga da fábrica no subsolo, com vários túneis que se entrecortam (10 kms de extensão), com 5º de temperatura onde as cervejas eram estocadas em barris imensos. Lá tivemos a oportunidade de tomar a cerveja diretamente do barril numa versão não filtrada e não pasteurizada. Muiiito legal!

Os corredores (10 km de extensão) com alguns barris



Os barris são imensos




A cerveja tirada direta do barril...Demais!!

Ao final do tour além da visita a lojinha que vale bastante a pena, vale também a ida ao restaurante da cervejaria (bastante amplo, confortável e agradável) para comer alguma coisa típica da região e provar as outras cervejas que são fabricadas ali.
Alem da cerveja Pilsen, a cervejaria também é responsável pela fabricação da Gambrinus, Kosel e Radegast.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Chodová Planá - o banho de cerveja









Que tal nós dois numa banheira de espuma...
          ( Rita Lee)









O universo da cerveja, a sua variedade é muito mais desconhecida  do que por exemplo o universo dos vinhos. Fato esse que tem mudado ultimamente, graças as diversas marcas estrangeiras que chegaram no nosso mercado assim como  diversas marcas artesanais fabricadas por aqui no Brasil com qualidade razoável.
Mas mesmo assim, muitas pessoas desconhecem completamente o assunto. Conversando com um amigo outro dia e comentando sobre cervejas e até sobre o blog ele se surpreendeu: mas o que você pode falar de diferente sobre cerveja? Cerveja gelada, natural? Cerveja clara ou escura? Malzbier?  Putz, sou muito ignorante sobre o assunto, disse ele.
E acabou sendo bem divertido quando eu comecei a contar para ele a visita a cervejaria Pilsen Urquel, mas antes no caminho a passada pela cervejaria Chodovar , seu Spa e o banho de cerveja.
Saindo de Bamberg na Alemanha, depois de tomar muita cerveja defumada nos dois dias que ficamos, acordamos e fomos em direção a República Tcheca. O tempo bem fechado, muita neve nas paisagens, passamos pela fronteira, completamente aberta sem nenhuma fiscalização...Fiquei imaginando como deveria ser na época do comunismo. O rádio imediatamente muda de língua e de estilo, do alemão para o tcheco e inacreditavelmente, a música mais tocada, tanto de um lado como de outro , era “ Se eu te pego” do Michel Teló!!!

Maior neblina no caminho



Cerca de uma hora e meia depois chegamos na cervejaria, restaurante, hotel e spa Chodovar. Atraídos para conhecer a cervejaria, mais ainda, estávamos curiosos pelo banho de cerveja, que são atribuídos diversos benefícios para a saúde, como qualidades de exfoliação, ativação da circulação, hidratação e além de tudo ainda é bom para psoríase, minha doença autoimune de estimação!!


A entrada para o Pub dentro da pedra

Interessantíssimo a entrada que dava na recepção e restaurante, numa passagem por dentro da pedra. Logo que chegamos, perguntei pela turnê que diariamente funciona às 14 horas. A moça falou que tinha vaga, e perguntou:
-  Qual a preferência de língua, tcheco ou alemão?
-  Inglês não rola? perguntei eu. 
-  Só no papel, vocês acompanham a guia e em cada ambiente está a explicação em inglês.
-  E o banho de cerveja?
-  Vocês fizeram reserva?
-  Não, sussurrei eu, já preocupado!
Ela ficou alguns minutos olhando para a agenda, ligou para o spa e eu tentando decifrar aquela sopa de letrinhas (consoantes) que ela falava, torcendo pelo “yes, nós temos uma vaga...”
-  Senhor, o banho é junto ou separado?
-  Como funciona?
-  Pode ser individual, em dupla ou em quadra...
-  Em dupla, eu e minha mulher
-  Está cheio, mas eu tenho uma desistência às 15:20
-  Fechado! Dá tempo de fazer o tour pela cervejaria?
-  Sim, acabando o tour o senhor se dirige direto ao spa que fica ao lado.
O tour é simples, a cervejaria não é grande, com instalações antigas que dão um charme e um ar artesanal ao lugar. O grande desbunde é quando chegamos ao final e damos em um pátio com um lago e uma torneira onde podemos beber a cerveja diretamente dessa torneira.

 Ali se malta a cevada como se fazia antigamente. Espalha-se o grão pelo chão e, de tempos em tempos, eles são virados com pás para equalizar a temperatura



Instalações antigas e funcionando


A cerveja sendo servida diretamente da torneira pela guia gatinha




Encerrado o tour , fomos para o spa e como estávamos em cima da hora, a moça permitiu que fôssemos para o banho e depois poderíamos pagar...
Fomos recebidos por duas senhoras tchecas gordas, de branco, típicas inspetoras de colégio interno de filme da sessão da tarde. Com ar autoritário, nos deu a chave do vestiário com banheiro e armário para que pudéssemos deixar as nossas roupas e voltássemos enrolados na toalha...pelados. Isso, o banho de banheira é peladão!
Tudo com aspecto limpo e higiênico. Cada banheira (de aço inox) fica numa cabine, onde as tias tchecas nos leva e nos serve uma cerveja (ótima, por sinal!) e finalmente podemos entrar na banheira quentinha com uma mistura de cerveja escura e água mineral. À mistura é acrescentado um pouco de lúpulo, fermento e ervas. O fermento é retirado dos tanques de fermentação da cervejaria.  A cerveja usada no tratamento não é feita até o fim. Ela vai direto dos tanques de fermentação para o banho, ou seja, não passa pela maturação. Não dá para beber a “água do banheira”… Por isso e pela diluição, durante o banho e depois dele, o aroma geral é adocicado. 




Saúde!

Como as banheiras ficam cercadas por cortinas dá para escutar as outras pessoas com várias línguas diferentes. No banho à quatro por exemplo, eram quatro amigas americanas de Boston, que estavam à trabalho na Alemanha e foram passar o fim de semana no hotel.
O banho demora vinte minutos, onde a banheira começa a esvaziar e uma das tias tchecas vem nos buscar para irmos (todos que tomaram banho de cerveja) até a uma sala de relaxamento, à meia luz, onde somos literalmente embrulhados em um lençol, como uma múmia, numa sala à meia luz, com música relaxante e nos servem outra cerveja.
Mais vinte minutos, fomos liberados. Nada de banho para não retirar a cerveja do corpo e consequentemente suas benesses que se por um lado não tem comprovação científica, como jogada de marketing é genial. Fomos para o Pub (dentro da pedra) pedimos uma porção de queijos da região acompanhados da cerveja clara não filtrada. Estava ótimo e foi bem divertido!



Queijos da Bohêmia e cerveja Chodovar



quarta-feira, 4 de julho de 2012

Bamberg - Cerveja defumada (parte 2)








Ilustração da cidade de
                     Bamberg em 1678





 No segundo dia em Bamberg, depois de andarmos pela cidade sem compromisso, fomos visitar duas cervejarias praticamente vizinhas, uma de frente para a outra: a Fassla e a Spezial.
Pela quantidade de cervejarias que a cidade tem e pelo o seu tamanho, parece que cada uma tem a sua tribo e suas preferências... A Schelenkerla, a mais conhecida e eclética: turistas e gente da região. E foi a impressão que eu tive quando entrei na Taverna da Fassla. O dono que ia de mesa em mesa, conhecia e falava com todos com bastante intimidade. Ao fundo uma mesa grande com alemães aposentados (diagnostiquei!). Jogavam um carteado e vibravam como uma final de campeonato, regados a cerveja pilsen. Fiquei olhando e me imaginei ali, aposentado, jogando cartas todos os dias...Que tédio! Apesar da boa cerveja e das amizades, pensei que aquilo ali também poderia ser muito chato!! Não é nem um pouco o que eu queria para a minha aposentadoria...Mas, enfim, costumamos pensar como se fôssemos senhores do nosso destino. Já ouvi muito: “Vou trabalhar, economizar e mais tarde, quando parar, aproveitar...” Doce ilusão! Melhor é o equilíbrio, porque "depois", "no futuro", “quando eu me aposentar”,  pode ser mero acaso do destino!!

Carteado dos aposentados na cervejaria



O dono, o simpático Roland Kalb, serve pessoalmente as mesas
Filosofia barata à parte, pedimos para começar pelo cardápio, uma pils e uma lager e começando pela diferença de cor, dá para notar que a segunda é bem mais marcante em termo de gosto e preferência.

A Pils e a Lager





















 Do outo lado da rua fica outra cervejaria, a Spezial. Também especializada em cerveja defumada, só que bem mais suave. As garçonetes atendem de roupas típicas e aqui é normal as pessoas virem até a cervejaria e encherem sua próprias jarras ou garrafas e beberem em casa.


O salão da Spezial e as garçonetes ao fundo



Mais suavemente defumada

Visão lateral da antiga cervejaria
Por último fomos conhecer a Klosterbrau, mais uma das cervejarias da cidade, a mais difícil de achar. Diz a história que se fabrica cerveja ali desde 1533 (!). Chegamos no final da tarde. Estava vazio, dois senhores conversavam entre si e com a bar-woman senhora que servia e também participava da conversa ativamente. Ele nos olhavam com curiosidade com o mesmo olhar que direcionávamos a eles. A cidade de Bamberg fica relativamente vazia de turistas no inverno... 

A recomendada pela bar-woman...excelente


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Bamberg - Cerveja defumada (parte 1)


“No incêndio de uma cervejaria o malte armazenado foi contaminado por fumaça (em alemão: Rauch). O cervejeiro, muito pobre, vendeu mesmo assim a cerveja produzida com aquele malte, e ao contrário de suas expectativas o produto caiu no paladar dos consumidores, de tal forma que ele continuou a produzir cerveja com malte previamente defumado. (História da cerveja defumada de Bamberg)"








         Alugamos um carro em Frankfurt, por sinal não muito fácil, muita demanda e as principais locadoras (Hertz, Sixty, Europcar, Avis) com poucas opções de carros e já com falta de GPS.  O planejamento e aluguel com antecedência é o recomendável, mesmo no inverno...Queria ser assim!
Passado o stress inicial, com tudo em cima, saímos de Frankfurt e fomos em direção à Bamberg.  Wurzburg está localizado no meio do caminho. Cidade medieval, vinícula, quase totalmente destruída na guerra e reconstruída, e é normalmente a primeira cidade a ser visitada na famosa rota romântica da Alemanha, no trajeto até Munique.  Resolvemos passar por dentro e visitar a Residenz, palácio construído no período de 1720 a 1740 principal atração turística da cidade dentro de um parque extremamente bonito no inverno, imagino no verão...

A fonte  congelada no jardim nos fundos do palácio


Entrada principal da Residenz
      



Uma hora de Wurzburg , fica Bamberg, cidade cidade antiga extremamente bem conservada, situada sobre sete colinas com cerca de 70.000 habitantes com 11 cervejarias. A principal fama da cidade está relacionada à sua riqueza artística e às cervejas defumadas. O grão é aquecido sobre as chamas de lenha de faia que conferem os aromas e sabores característicos da cerveja.
Deixamos as malas no hotel e saímos para explorar a cidade que fica às margens do rio Regnitz e do canal Main-Danúbio. Depois de andar pelas ruas, visitar a catedral fundada em 1004 (!)  e passar pela antiga prefeitura que parece se equilibrar às margens do rio, terminamos no bar/restaurante da cervejaria mais famosa da cidade, a Schlenkerla. 


Ao fundo, o canal e o prédio da antiga prefeitura. Show!

      Diz a história da cervejaria Schlenkerla, que entre 1405 e 1615 (!),  a casa onde está a taverna foi vendida algumas  vezes. Durante a Guerra dos 30 Anos  (1618-1648) a casa foi destruída e reconstruída. Os relatórios antes de 1678 são escassos, mas naquele ano a cervejaria foi fundada e daquele momento em diante pode-se encontrar mais e mais informações e algumas  podem ser obtidas diretamente no site da cervejaria.
     A taverna da cervejaria  é grande, na entrada um lugar só para tomar cerveja, mais a frente uma lojinha que vende acessórios, cervejas em garrafa, latas etc e dentro, vários ambientes, cheios, com muitas mesas, normalmente compartilhadas. Conseguimos o nosso lugar ao lado de um casal de alemães e pedimos de cara a cerveja tradicional  e a de trigo defumada.


Visão de um dos salões e as mesas compartilhadas




Cerveja defumada tradicional



Para o nosso gosto as cervejas são muito interessantes, bastante diferentes.  A tradicional é mais intensa e se harmonizou maravilhosamente com a comida pedida, típica da região: ombro de porco defumado feito na cerveja da casa com batata e chucrute, que foi literalmente devorada! Fechamos com a rauchbier urbock, com teor alcoólico maior (6,5%),  mais encorpada, com uma doçura no final que combinou com a sobremesa, um applelfestrudel com creme que estava ótimo.




Prato típico: ombro de porco defumado feito na cerveja





Não sobrou nada!



Com uma disposição de guerreiro, saímos dali e fomos  para  outra cervejaria que fica ao lado, a Ambrausianum. As cubas de fabricação podem ser vistas e é uma cervejaria mais moderna, foi inaugurada em 2004. Pedimos uma degustação de cervejas...Dentre elas vinha a rauchbier, fabricada pela vizinha e disparada a mais interessante...




Degustação de cervejas da Ambrausianum




Noite fria de inverno, voltando para o hotel andando pelas ruas desertas da cidade medieval, depois de muitas informações, boa comida e boa bebida...Sensação única de viajem!!