sexta-feira, 13 de julho de 2012

Chodová Planá - o banho de cerveja









Que tal nós dois numa banheira de espuma...
          ( Rita Lee)









O universo da cerveja, a sua variedade é muito mais desconhecida  do que por exemplo o universo dos vinhos. Fato esse que tem mudado ultimamente, graças as diversas marcas estrangeiras que chegaram no nosso mercado assim como  diversas marcas artesanais fabricadas por aqui no Brasil com qualidade razoável.
Mas mesmo assim, muitas pessoas desconhecem completamente o assunto. Conversando com um amigo outro dia e comentando sobre cervejas e até sobre o blog ele se surpreendeu: mas o que você pode falar de diferente sobre cerveja? Cerveja gelada, natural? Cerveja clara ou escura? Malzbier?  Putz, sou muito ignorante sobre o assunto, disse ele.
E acabou sendo bem divertido quando eu comecei a contar para ele a visita a cervejaria Pilsen Urquel, mas antes no caminho a passada pela cervejaria Chodovar , seu Spa e o banho de cerveja.
Saindo de Bamberg na Alemanha, depois de tomar muita cerveja defumada nos dois dias que ficamos, acordamos e fomos em direção a República Tcheca. O tempo bem fechado, muita neve nas paisagens, passamos pela fronteira, completamente aberta sem nenhuma fiscalização...Fiquei imaginando como deveria ser na época do comunismo. O rádio imediatamente muda de língua e de estilo, do alemão para o tcheco e inacreditavelmente, a música mais tocada, tanto de um lado como de outro , era “ Se eu te pego” do Michel Teló!!!

Maior neblina no caminho



Cerca de uma hora e meia depois chegamos na cervejaria, restaurante, hotel e spa Chodovar. Atraídos para conhecer a cervejaria, mais ainda, estávamos curiosos pelo banho de cerveja, que são atribuídos diversos benefícios para a saúde, como qualidades de exfoliação, ativação da circulação, hidratação e além de tudo ainda é bom para psoríase, minha doença autoimune de estimação!!


A entrada para o Pub dentro da pedra

Interessantíssimo a entrada que dava na recepção e restaurante, numa passagem por dentro da pedra. Logo que chegamos, perguntei pela turnê que diariamente funciona às 14 horas. A moça falou que tinha vaga, e perguntou:
-  Qual a preferência de língua, tcheco ou alemão?
-  Inglês não rola? perguntei eu. 
-  Só no papel, vocês acompanham a guia e em cada ambiente está a explicação em inglês.
-  E o banho de cerveja?
-  Vocês fizeram reserva?
-  Não, sussurrei eu, já preocupado!
Ela ficou alguns minutos olhando para a agenda, ligou para o spa e eu tentando decifrar aquela sopa de letrinhas (consoantes) que ela falava, torcendo pelo “yes, nós temos uma vaga...”
-  Senhor, o banho é junto ou separado?
-  Como funciona?
-  Pode ser individual, em dupla ou em quadra...
-  Em dupla, eu e minha mulher
-  Está cheio, mas eu tenho uma desistência às 15:20
-  Fechado! Dá tempo de fazer o tour pela cervejaria?
-  Sim, acabando o tour o senhor se dirige direto ao spa que fica ao lado.
O tour é simples, a cervejaria não é grande, com instalações antigas que dão um charme e um ar artesanal ao lugar. O grande desbunde é quando chegamos ao final e damos em um pátio com um lago e uma torneira onde podemos beber a cerveja diretamente dessa torneira.

 Ali se malta a cevada como se fazia antigamente. Espalha-se o grão pelo chão e, de tempos em tempos, eles são virados com pás para equalizar a temperatura



Instalações antigas e funcionando


A cerveja sendo servida diretamente da torneira pela guia gatinha




Encerrado o tour , fomos para o spa e como estávamos em cima da hora, a moça permitiu que fôssemos para o banho e depois poderíamos pagar...
Fomos recebidos por duas senhoras tchecas gordas, de branco, típicas inspetoras de colégio interno de filme da sessão da tarde. Com ar autoritário, nos deu a chave do vestiário com banheiro e armário para que pudéssemos deixar as nossas roupas e voltássemos enrolados na toalha...pelados. Isso, o banho de banheira é peladão!
Tudo com aspecto limpo e higiênico. Cada banheira (de aço inox) fica numa cabine, onde as tias tchecas nos leva e nos serve uma cerveja (ótima, por sinal!) e finalmente podemos entrar na banheira quentinha com uma mistura de cerveja escura e água mineral. À mistura é acrescentado um pouco de lúpulo, fermento e ervas. O fermento é retirado dos tanques de fermentação da cervejaria.  A cerveja usada no tratamento não é feita até o fim. Ela vai direto dos tanques de fermentação para o banho, ou seja, não passa pela maturação. Não dá para beber a “água do banheira”… Por isso e pela diluição, durante o banho e depois dele, o aroma geral é adocicado. 




Saúde!

Como as banheiras ficam cercadas por cortinas dá para escutar as outras pessoas com várias línguas diferentes. No banho à quatro por exemplo, eram quatro amigas americanas de Boston, que estavam à trabalho na Alemanha e foram passar o fim de semana no hotel.
O banho demora vinte minutos, onde a banheira começa a esvaziar e uma das tias tchecas vem nos buscar para irmos (todos que tomaram banho de cerveja) até a uma sala de relaxamento, à meia luz, onde somos literalmente embrulhados em um lençol, como uma múmia, numa sala à meia luz, com música relaxante e nos servem outra cerveja.
Mais vinte minutos, fomos liberados. Nada de banho para não retirar a cerveja do corpo e consequentemente suas benesses que se por um lado não tem comprovação científica, como jogada de marketing é genial. Fomos para o Pub (dentro da pedra) pedimos uma porção de queijos da região acompanhados da cerveja clara não filtrada. Estava ótimo e foi bem divertido!



Queijos da Bohêmia e cerveja Chodovar



quarta-feira, 4 de julho de 2012

Bamberg - Cerveja defumada (parte 2)








Ilustração da cidade de
                     Bamberg em 1678





 No segundo dia em Bamberg, depois de andarmos pela cidade sem compromisso, fomos visitar duas cervejarias praticamente vizinhas, uma de frente para a outra: a Fassla e a Spezial.
Pela quantidade de cervejarias que a cidade tem e pelo o seu tamanho, parece que cada uma tem a sua tribo e suas preferências... A Schelenkerla, a mais conhecida e eclética: turistas e gente da região. E foi a impressão que eu tive quando entrei na Taverna da Fassla. O dono que ia de mesa em mesa, conhecia e falava com todos com bastante intimidade. Ao fundo uma mesa grande com alemães aposentados (diagnostiquei!). Jogavam um carteado e vibravam como uma final de campeonato, regados a cerveja pilsen. Fiquei olhando e me imaginei ali, aposentado, jogando cartas todos os dias...Que tédio! Apesar da boa cerveja e das amizades, pensei que aquilo ali também poderia ser muito chato!! Não é nem um pouco o que eu queria para a minha aposentadoria...Mas, enfim, costumamos pensar como se fôssemos senhores do nosso destino. Já ouvi muito: “Vou trabalhar, economizar e mais tarde, quando parar, aproveitar...” Doce ilusão! Melhor é o equilíbrio, porque "depois", "no futuro", “quando eu me aposentar”,  pode ser mero acaso do destino!!

Carteado dos aposentados na cervejaria



O dono, o simpático Roland Kalb, serve pessoalmente as mesas
Filosofia barata à parte, pedimos para começar pelo cardápio, uma pils e uma lager e começando pela diferença de cor, dá para notar que a segunda é bem mais marcante em termo de gosto e preferência.

A Pils e a Lager





















 Do outo lado da rua fica outra cervejaria, a Spezial. Também especializada em cerveja defumada, só que bem mais suave. As garçonetes atendem de roupas típicas e aqui é normal as pessoas virem até a cervejaria e encherem sua próprias jarras ou garrafas e beberem em casa.


O salão da Spezial e as garçonetes ao fundo



Mais suavemente defumada

Visão lateral da antiga cervejaria
Por último fomos conhecer a Klosterbrau, mais uma das cervejarias da cidade, a mais difícil de achar. Diz a história que se fabrica cerveja ali desde 1533 (!). Chegamos no final da tarde. Estava vazio, dois senhores conversavam entre si e com a bar-woman senhora que servia e também participava da conversa ativamente. Ele nos olhavam com curiosidade com o mesmo olhar que direcionávamos a eles. A cidade de Bamberg fica relativamente vazia de turistas no inverno... 

A recomendada pela bar-woman...excelente